A Associação Cultural Gramado – Casa da Juventude...

Nilo Franck

Nilo

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6º ENCONTRO DAS COMUNIDADES ALEMÃS DA AMÉRICA LATINA


 

JUÍZ DE FORA/MG - 03 A 05 DE SETEMBRO DE 2008.


PALESTRA


TEMA: A ASSOCIAÇÃO CULTURAL GRAMADO – CASA DA JUVENTUDE COMO PÓLO CULTURAL NO SUL DO BRASIL E SEU PROJETO DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL.


PALESTRANTE: Gerhard Rudolf Kleine


                                


Pesquisas históricas comprovam a presença pontual de alemães no Brasil desde a chegada da frota portuguesa no litoral do nosso país no ano de 1500, no entanto o movimento imigratório maciço e organizado teve seu início no ano de 1824, embora tentativas frustradas já tivessem ocorrido durante o governo joanino no interior da Bahia e também no Rio de Janeiro. Dessa forma, consideramos o ano de 1824 como data referencial para a história da imigração alemã e, por conseguinte, da própria história dos teuto-brasileiros (Deutschbrasilianer). Além disso, cabe destacar o papel desempenhado pelo Imperatriz Dona Leopoldina, esposa de D. Pedro I, que era da casa dos Habsburgos, filha do Imperador Francisco I da Áustria nesse processo, quando atuou de forma direta no chamamento desses imigrantes para ocupar e povoar essa nova nação.


 


Os alemães provenientes das mais diferentes regiões da Alemanha de hoje e da Áustria, trouxeram como únicas “riquezas” seu idioma, sua cultura, seus costumes e sua religião.  Com isso começaram a trabalhar e a sobreviver. Cada família trazia na bagagem uma Bíblia e um hinário, que serviam de base para o aprendizado das crianças.


 


Ao lado do trabalho árduo era muito importante a conservação da cultura e dos costumes. Por isso em cada povoação eram construídos os chamados “Kulturvereine”, ou sociedades culturais, onde as famílias se encontravam para cantar, acompanhado por algum instrumento musical (violino, flauta ou acordeão), liam-se e contavam-se histórias para crianças e adultos, fazia-se teatro, danças folclóricas e danças de salão (bailes).  No campo eclesiástico festejavam-se as datas religiosas e o dia da sagração da igreja, conhecido como “Kerb” (Kirchweihfest), costume perpetuado até os dias de hoje.


 


Esse quadro se modificou com a eclosão da II Guerra Mundial, quando o governo de Getúlio Vargas proibiu o uso das línguas dos imigrantes (alemão, italiano, japonês, principalmente) e confiscou as escolas particulares, fechou os clubes e as sociedades dos descendentes dos imigrantes. Isso resultou em um retrocesso cultural sem precedentes, que durou bons vinte anos até se recuperar, deixando uma lacuna e perdas incalculáveis para a cultura de nosso país.


 


Ao término da II Guerra Mundial, em 1945, a Alemanha encontra-se totalmente destruída e faminta, necessitada de ajuda dos povos menos prejudicados pelo conflito. Os Estados Unidos desenvolveram programas de ajuda aos alemães e outros povos europeus, enviando pacotes com alimentos à Europa faminta (Care packets). Também no Brasil, os descendentes dos imigrantes alemães se reuniram para enviar os chamados “Liebesgaben” ou “ofertas de amor”, aos parentes e amigos na Alemanha. Nessas ocasiões alguns grupos já “ousavam” falar outra vez a língua alemã e, para alegrar e descontrair os grupos de trabalho, que preparavam os pacotes, cantavam-se as velhas canções e alguém lia histórias em língua alemã. A partir de 1950, quando a Alemanha já conseguia sobreviver sozinha, estes grupos se transformaram outra vez em centros culturais, que se denominaram de ”Centros Culturais 25 de Julho”, em homenagem ao dia da chegada dos primeiros imigrantes alemãs no Rio Grande do Sul em 1824.


 


Em 1951 o senhor Fritz Rotermund, conhecido como o “Pai do Movimento 25 de Julho”, de São Leopoldo, o Major Leopoldo Petry, de Novo Hamburgo, Carlos Oscar Kortz, comerciante de Porto Alegre, o industrial portoalegrense Otto Renner, o deputado Bruno Born de Lajeado, o Dr. Wolfram Metzler de São Leopoldo, o historiador Dr. Klaus Becker de Canoas, o Padre Balduino Rambo , como representante da igreja católica, o professor Theo Kleine, representando a igreja evangélica, entre outros, reuniram-se para fundar um órgão congregador dos centros culturais, a “FEDERAÇÃO DOS CENTROS CULTURAIS 25 DE JULHO”, cujo primeiro presidente foi o sr. Leopoldo Petry e o Secretário Geral o prof. Theo Kleine, cargo que ocupou durante 37 anos.


 


 O prof. THEO KLEINE foi a “alma mater” da Federação 25 de Julho, pois a ele foram incumbidas as tarefas de organizar e coordenar as atividades da mesma, entre as quais podemos destacar: a elaboração e distribuição de material didático para o ensino da língua alemã dirigido aos Centros Culturais, tais como:


-       cartilhas e livros de leitura para os alunos em idade escolar, além de literatura infanto-juvenil,


-       cancioneiros com músicas populares, cantos de natal e cantos folclóricas alemãs,


-       partituras para duas e mais vozes para os corais mistos e masculinos, tanto em língua alemã, como em português,


-       a publicação de inúmeras obras  escritas por escritores/as  teuto-brasileiros/as, radicados no Brasil,


-       além de um Boletim Informativo - Mitteilungsblatt – relatando todas as atividades da Federação e o que acontecia nos diversos Centros Culturais, com no mínimo duas edições anuais, chegando a atingir uma tiragem de até 5.000 exemplares cada.


 


No entanto, no 3º Congresso Nacional da Federação, realizado em Curitiba no ano de 1961, apareceu de forma mais contundente a preocupação com a formação de novas lideranças para os centros culturais. O professor Theo Kleine foi, novamente, incumbido da tarefa de elaborar um estudo e um projeto que dessem conta de sanar essas precupações.  Surgiu então a idéia de se construir uma casa, na qual se pudessem realizar cursos de aperfeiçoamento e treinamento para jovens lideranças, que deveriam assumir as atividades culturais em seus centros culturais de origem, como:


-       professores de língua alemã e de jardim de infância,


-       regentes de corais e de conjuntos instrumentais ou orquestras,


-       dirigentes de grupos de jovens, de grupos de danças folclóricas e de grupos de teatro ,    e muitos outros mais, todos dirigidos à cultura alemã.   


 


Podemos afirmar sem temor que Theo Kleine foi um visionário do século XX: apesar de todas as dificuldades que pudessem se constituir pôs-se a procurar um local ideal para a construção da casa. Na cidade de Gramado encontrou uma área de terra de 6.300 m2, às margens do Lago Negro, que foi doada pela Prefeitura Municipal no ano de 1962, durante a gestão do então prefeito Arno Michaelsen e um ano depois foi lançada a pedra fundamental do então “Lar da Juventude 25 de Julho” e iniciada uma grande campanha de venda de tijolos para a construção do mesmo. Para tanto, Theo Kleine visitou todos os Centros Culturais 25 de Julho existentes no sul do Brasil, além de São Paulo e também do Espírito Santo, onde realizou palestras sobre o trabalho cultural realizado pela Federação e “vendendo tijolos” para a futura obra.


 


Em dois anos arrecadou metade do dinheiro necessário para a construção, a outra metade foi conseguida junto a uma entidade cultural alemã denominada VDA – Verein für das Deutschtum im Ausland -, ou seja: Associação para a preservação da Cultura Alemã no Exterior. Durante o biênio de 1964/65 foi efetuada a construção do prédio com dois pavimentos, totalizando cerca de 1.300m2 de área, e, finalmente, em 09 de janeiro de 1966 conseguiu-se inaugurar a CASA DA JUVENTUDE GRAMADO, como foi batizada, há 42 anos atrás, onde desde então foram concretizados os objetivos para os quais tem sido construído.


 


Com a finalidade de se precaver de dificuldades futuras e pensando na necessidade de uma boa administração e manutenção da Casa a diretoria da Federação 25 de Julho achou por bem criar uma entidade mantenedora e, em 10 de abril de 1965, a ASSOCIAÇÃO CULTURAL GRAMADO, para a qual foi transferido todo o patrimônio, bem como toda a responsabilidade administrativa da entidade cultural, foi fundada. O primeiro Diretor Administrativo da Casa foi o prof. Theo Kleine, que junto com sua esposa Marie-Agnes administrou a Casa durante os primeiros quatro anos, até o final de 1969. Theo Kleine faleceu em 18 de agosto de 1999 na Alemanha e suas cinzas foras sepultadas no cemitério evangélico de Gramado.


 


Além dos cursos semestrais, com alunos internos a Casa oferecia os mesmos currículo em cursos intensivos realizados durante os meses de férias, tais como cursos de língua alemã, cursos de música, teatro e danças folclóricas e cursos de música para crianças de 8 a 12 anos de idade, uma semana antes do Natal. Tanto os cursos semestrais como os de férias tiveram sempre uma boa procura e freqüência até o ano de 1972, quando se sentiu a necessidade de fazer algumas mudanças na estrutura da Casa.


 


As primeiras atividades realizadas na Casa eram dirigidas pela própria Federação e contavam, além do currículo já citado, os cursos de economia e lides domésticas, primeiros socorros, como tratar e cuidar de crianças pequenas, etc. Além disso, foram iniciados os cursos semestrais, cujo objetivo era oportunizar uma formação ou um aperfeiçoamento em tempo integral e cursos extensivos nas modalidades já descritas. É do desenvolvimento desses cursos que surge uma das primeiras grandes conquistas da Associação Cultura Gramado: sua Escola de Educação Infantil “25 de Julho”. Sua fundação é fruto dos cursos de aperfeiçoamento para professoras de Jardim de Infância. Inicialmente como uma escola experimental, de aplicação, porém em 1967 a escola foi formalizada e sua atividade tornou-se regular a pedido da comunidade gramadense e como resultado do pioneirismo e da qualidade do ensino ministrados.


 


A procura pela escola cresceu muito e em pouco tempo a instituição sentiu necessidade de usufruir de um prédio próprio. Com auxilio de uma entidade alemã, “Brot für die Welt” – Pão para o Mundo – que ajudou no financiamento da obra e da comunidade gramadense através de uma “Campanha do tijolo e de cimento” a obra pôde ser realizada e em 1972 as aulas foram iniciadas.


 


Em fins de 1969 o prof. Theo Kleine entregou a Direção da Casa da Juventude e em 1º de janeiro de 1971 foram contratados seu filho Gerhard Rudolf Kleine e sua esposa Ruth Horst Kleine como novos diretores com a tarefa de dar continuidade ao trabalho iniciado por seu pai. Tem início, então, a 2ª fase da Associação Cultural Gramado – Casa da Juventude.


 


Em Assembléia Geral realizada em 1972 decidiu-se que o trabalho da Casa deveria ser aberto também a pessoas de outras etnias, mas que se propusessem a aceitar e cumprir os objetivos fixados desde o início. Os cursos semestrais foram cancelados e em seu lugar foi aberto um espaço para grupos interessados em realizar atividades como congressos, seminários, retiros e similares, principalmente nos fins-de-semana, dando-se sempre preferência a atividades culturais e educacionais. Nos meses de férias escolares continuou-se com os cursos já conhecidos, porém em escala maior. Aos poucos este trabalho conseguiu bons resultados.  Com a abertura da Casa para outros grupos se conseguiu novos associados e, também, novos grupos de “clientes” e freqüentadores.


 


A partir de janeiro de 1983 a Federação 25 de Julho, através do prof. Theo Kleine, iniciou uma parceria com a Casa da Juventude para a realização de cursos de danças folclóricas alemãs, para os grupos ligados aos Centros Culturais. No primeiro curso compareceram 30 coordenadores de grupos de danças e já no segundo ano o número duplicou, tornando-se necessário realizar dois cursos, e, mais tarde, até três por temporada.









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