A Imigração Alemã no Brasil

Nilo Franck

Nilo

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A IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO BRASIL





Armindo L. Müller

Nova Friburgo - RJ


 


o Autor é Sócio Efetivo do Colégio Brasileiro de Genealogia; Sócio do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba; Sócio do Instituto Genealógi­co do Rio Grande do Sul; Membro da Diretoria da Ássociação Nacional de Pesquisadores das Comunida­des Teuto-brasileiras; Sócio Fundador do Centro de Es­tudos Genealógicos do Vale do Rio Pardo; Sócio Fun­dador do Centro Cultural Teuto-Fríburguense; Cidadão Emérito de Santa Cruz do Sul; Cidadão Honorário de Nova Friburgo e Cidadão do Estado do Rio de Janeiro.



CRONOLOGIA DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ N0 BRASIL

 

 


1818 - Rama - Cachoeira de Santa Leopoldina (Leopoldínia) - alemães estabeleci­dos por Georg Wilhelm Freyreiss (1789-1825), às margens do Peruípe, per­to de Viçosa (5 sesmarias) -133 pessoas.

1819 - Bama - São Jorge dos TIhéus (São Jorge da Cachoeira de Itabuna) - estabe­lecidos 161 alemães (28 famílias), às margens do Cachoeira, por Peter We­yll e Adolf Saueracker. Cultivaram fumo, cacau e cereais. Em 1824 havia ainda 20 habitantes. Administrada por Johann Philipp Henning.

1819 - Rio de Janeiro - Nova Friburgo - colonos suíços. 1820 - Rio de Janeiro - Nova Friburgo - colonos suíços.

1822 - Bahia - Frankenthal - criada por von Schaffer às margens do arroio Jaca­rili'1dá, afluente do Peruípe (4.356 hectares). Em 1824 teria contado 20 pes­soas (4 famílias), oriundas da Francônia. Seria a colônia de Almada ? Nova remessa (1823) foi desviada para Nova Friburgo-RJ, em 1824. Consta que o major von Schaeffer ter-se-ia recolhido a esta colônia e ali falecido.

1822 - Rio de Janeiro - Fazenda da Mandioca (em Petrópolis) - 40 famílias ale­mãs contratadas pelo médico Georg Heinrich von Langsdorff (1774-1852),

tendo sido os primeiros colonos IJbraços livres" a trabalhar numa fazenda, no Brasil.

1824 - Rio de Janeiro - Colônia do Morro Queimado (Nova Friburgo) - estavam destinados à Colônia de Almada, no sul da Bahia, mas foram instalados em Nova Friburgo, em 03.05.1824. Vieram nos navios IJ Argus" e "Caroli­ne", angariados pelo major von Schãffer.

1824 - Rio Grande do Sul - Colônia de São Leopoldo - a segunda leva organiza­da pelo major von Schãffer, chegou em 25.07.1824, no" Anna Lonise".

1824 - Rio Grande do Sul- Terceira leva do major SchãÍfer. Vieram no "Germâ­nia". Também foram para o sul.

1828 - Santa Catanna - São Pedra de A1cântara - 523 colonos e 112 ex­mercenários, que vieram no brigue "Ltúza" (276 pessoas) e no bergantim "Marquês de Viana" (359 pessoas). Em 1829 vieram mais 50 (princípalmen­te soldados) e, em 1830,9 colonos.

1829 - São Paulo - Santo Amara - 17 famílias 1829 - São Paulo - Itapecirica - 21 famílias

1830 - Pernambuco - Colônia de Santa Amélia - composta de náufragos.

1837 - São Paulo - lpanema - o major Jacob Bloem, que dirigia a siderÚrgica de Ipanema, fixou 56 alemães ali, e 171 para trabalhar na estrada Cubatão-São Paulo.

1837 - Rio de Janeiro - 238 colonos do "Justine", destinados à Austrália, estabele­cidos no Caminho das Cabras, na serra da Estrela, em Petrópolis.

1845 - Rio de Janeiro - Petrópolis -1818 colonos estabelecidos na fazenda Córre­go Seco. Muitos não permaneceram e seguiram para o sul.

1847 - São Paulo - 80 famílias contratadas pelo senador Vergueira, para trabalhar em sua fazenda, em sistema de meação, em Ibicaba.

1847 - Santa Catarina - Santa Isabel, às margens do Cubatão, na foz do rio dos Bugres - 256 colonos do Hunsrück

1847 - Espírito Santo - Santa Isabel (Domingos Martins) - às margens do rio Jucu, }.'1êssoas li><,=, Birkenfeld.

1848 - Rio de Janeiro - Macaé - remanescentes de 600 famílias abandonadas em Niterói e estabelecidas em Macaé.

1849 - Rio Grande do Sul- Colônia de Santa Cmz -12 pessoas.

1850 - Santa Catarina - Colônia São Paulo de Blumenau - fundada por Hermann Bruno atto Blumenau, em 02.09.1850 - com 17 pessoas, em 1851, 8 e, em 1852; 110,

1851 - Santa Catarina - Colônia Dona Frandsca - 124 colonos, que vieram no "Colon" .

1852 - Rio de Janeiro - Fazenda Santa Rosa - do barão de Baependi -132 colonos. 1852 - Rio de Janeiro - Fazenda Independência - de Nicola1.l Antônio Nogueira da Gama -172 agricultores.

1852 - Rio de Janeiro - Fazenda Santa Justa - de Brás Carneiro BeUens -155 c010-

nos.

1852 - Rio de Janeiro - Fazenda Coroas - do marquês de Valença -143 colonos.

1852 - Rio de Janeiro - Fazenda Martim de Sá - de João Cardoso de Menezes - 67 colonos.

1852 - Minas Gerais - Colônia D. Pedra II Ouiz de Fora).

1853 - Santa Catarina - Santa Teresa - na estrada para Lajes, onde foram instala­dos 19 soldados.

1855 - Espírito Santo - Colônia de Rio Novo, perto de Itapemirim.

1856 - Espírito Santo - Colônia de Santa Leopoldina (Jequitibá - Santa Maria ­Campinho - Califómia - Santa Joana - Santa CUIZ), criada para receber 1144 colonos, libertados do contrato de parceria de Ubatuba.

1856 - Minas Gerais - Mucuri (Nova Filadélfia) - Teófilo OttonL

1857 - Rio Grande do Sul- ColôrÜa Santo Ângelo (hoje: Agudo). 1858 - Minas Gerais - Colônia de Mariano Procópio (Juiz de Fora).

1860 - Santa Catarma - Colônia de Teresópolis - 40 famílias de Holstein, oriun­dos das plantações de café do Rio de Janeiro (desde 1849), às margens do São Miguel.




        G. T


Breve Histórico

A - Os primeiros imigrantes alemães no Brasil

Os alemães já se fazem presentes no Brasil por ocasião do seu descobrimento. Acompanhava a expedição de Cabral o mestre João (Meister Johann).

Conhecido é o episódio, em que Hans Staden, que foi aprisionado pelos índios no litoral paulis­ta, preenchia o seu tempo cantando hinos luteranos, por volta de 1547. Podemos citar, também, Helio­doro Hesse e Ulrich Schmiedel.

Experiências com agricultores teutos foram feitas na Bahia: na Colônia de Cachoeira de Santa Leopoldina (Leopoldínia), em 1818, pelo hamburguês Johann Philipp Henning Freyreiss e, em Fran­kenthal, em 1822, pelo Major Schaeffer. Mas foram de pouca expressão e o pequeno número de imi­grantes, em pouco tempo, tomou-se uma espécie de escravos dos grandes proprietários da região ou debandou. Infelizmente desconhecemos os nomes destes imigrantes. Mas um fato chama a atenção na história de Nova Friburgo: Johann Nicolaus Caesar é membro da Comunidade Luterana e, por ocasião do batismo de um dos filhos, consta que ele procedia da Bahia. Seria ele um dos descendentes daque­les pioneiros? Convém destacar que os imigrantes vindos no "Argus" vinham destinados para a Colô­nia de Almada, localizada nesta mesma região.

No Rio de Janeiro, já em 07.08.1821, era fundada a Sociedade Germânia, com trinta sócios fun­dadores, todos de origem germânica.

O major von Schãffer foi encarregado por José Bonifácio de trazer soldados para o Brasil. Ao mesmo tempo o agente Caldeira Brant arrebanhava em Londres veleiros e vapores e contratava ofici­ais e marujos para a frota. Logo após a proclamação da independência foi criado um regimento de es­trangeiros. Muitos oficiais, a maioria franceses, foram contratados. Esperava-se também contar com a colônia suíça de Nova Friburgo. Havia na época um batalhão composto principalmente de suíços de fala francesa, que haviam sido aliciados ou obrigados que deveria ser o ceme de uma guarda para a segurança pessoal do imperador. Podemos confirmar isto com o seguinte depoimento: "A criação dos Corpos estrangeiros no exército do Brasil data de 8 de janeiro de 1823, quando por decreto dessa data foi mandado organizar um Regimento de Estrangeiros, que seria composto de um estado-maior e três batalhões. h1cumbiu-se do recrutamento, na Alemanha, o major Jorge Antônio Schaffer [...]".

Os primeiros navios a trazerem imigrantes alemães para o Brasil foram:

    1. "Argus"     chegou em 13.01.1824 com 150 soldados, 134 lavradores e 24 canhões. Os

lavradores foram estabelecidos em Nova Friburgo.

    2. "CamUne"     (primeira viagem) - veio em 13.04.1824 com 174 imigrantes e 51 soldados.

Os colonos também foram estabelecidos em Nova Friburgo.

    3. "AnnaLouise"     chegaram em 04.06.1824 - 325 passageiros. Em 09.06.1824, o Mons. Mi-

randa oficia: "Há quatro dias chegaram mais 325 lavradores alemães, 269 para a tropa e o resto lavradores; aqueles, os mandei fossem entregues ao Batalhão de Estrangeiros, e estes, ainda S.Ml me não determinou o seu destino". Foram enviados para São Leopoldo.

    4. "Germânia"     veio em 14.09.1824 com 182 soldados e 70 colonos, entre os quais 8 reclu-

sos e outros, somando 275 passageiros.

    5. "Georg Friedrich" (primeira viagem) - chegou em 11.10.1824 com 4 oficiais, 346 soldados, 1

médico e 130 colonos, somando 462 passageiros, entre os quais 169 reclu­sos.

    6 . "Peter e Marie"     chegou em 12.11.1824 com 206 soldados e 74 lavradores.

    7. "Der Kranich"     (primeira viagem) - chegou em 15.01.1825 com 77 soldados e 282 lavrado-

res.

8. "'Triton"

    9. "Caroline"     (segunda viagem) - chegou em 05.04.1825 com 384 imigrantes (13 oficiais,

4 cirurgiões e boticários, 3 cadetes, 31 inferiores, 6 tambores, 264 soldados e 63 colonos).

       10. "Wilbeimine"     chegou em 21.04,1825 trazendo grande número de mercenários e 160 cri-

minosos de Mecklenburgo.

       11. "Fortuna"     chegou em 02.10.1825

       12 ."Friedrich Heinrich" chegou em 08.11.1825

       13. "Georg Friedrich" (segunda viagem) - chegou em 20.11.1825

       14 . "Creole"     chegou em 28.11.1825

       15. "De.' Kranich" (segunda viagem) - chegou em 19.01.1826

Segundo Cansanção de Sinimbu, 342 lavradores foram para Nova Friburgo: 195 homens e 147 mulheres~ 128 casados e 214 solteiros.

Em 08.05.1825, o major diretor Francisco de Salles Ferreira de Souza oficia ao Ministro de Es­tado dos Negócios Estrangeiros, Luiz José Carvalho e Mello: "Tenho a honra de participar a VExa. que em o dia 22 do mês passado chegaram à jàzenda do cel. Francisco Ferreira da Cunha os lavra­dores alemães conduzidos pelos majores do Regimento de Infantaria de Milicias número 8: Antonio Mariano de Souza Lobo e Francisco Dias Lopes (aonde me achava para os receber), os quais me.fi­zeram entrega de 276 - número como consta no mapa que me apresentaram ~ ficando uns em 1\4aca­eu, entre homens, mulheres e crianças), e descansando eles em o dia 30, na conjormidade das ordens [. .. ]. Julguei, então, conveniente (para melhor ordem e regularidade de sua marcha), fazê-Ias seguir em duas divisões, sendo a primeira conduzida pelo capitão-mar de Cantagalo Manoel Vieira de Sou­za, conduzindo eu a segunda. Chegando a primeira divisão a esta colônia em o dia 3 de maio e a se­gunda em o dia 4 [ ... ].

Estes imigrantes, que vieram acompanhados do pastor Friedrich Oswald Sauerbronn, fundaram a primeira igreja evangélica da América Latina, em Nova Friburgo.

Presume-se que até 1829 Schaeffer tenha trazido cerca de 10 mil soldados, lavradores e operá­rios alemães para o Brasil. Mas estes últimos parecem ter sido um disfarce, pois o império brasileiro queria soldados. O relatório de um militar argentino o confirma: "As tropas argentinas, perseguindo os brasileiros derrotados na batalha de Ituzaingó, encontraram grande número de alemães que não mais desejavam participar da guerra. Eles vieram ao nosso encontro e nos disseram que foram trazi­dos para cá, sem saber exatamente para que finalidade" (Frõschle 73).

Conseqüências imediatas da imigração alemã:

1.- Com a vinda dos imigrantes aconteceu um dos mais profundos projetos de reforma agráriajá leva­dos a efeito no país. Até então reinava um feudalismo cruel: os portugueses, não afeitos ao trabalho braçal, detinham os enormes latifúndios e os escravos trabalhavam. Com a vinda dos suíços e especi­almente dos alemães teve início urna aooricultura familiar auto-sustentável. Se, aqui, não deu certo, não foi por causa dos imigrantes. Eles foram enganados desde o momento da contratação na Europa O imperador desejava soldados para aumentar os batalhões e fortalecer a independência recém promul­gada. A vinda de lavradores era tão somente um disfarce. F oram enviados para cá, onde receberam terras impróprias para a agricultura. A grande maioria debandou. E os poucos remanecentes foram completa e rapidamente aculturados, perdendo a identidade. Mas em outros estados brasileiros esta maneira de praticar agricultura vingou.

2. - Com a vinda destes imigrantes, quase todos protestantes, começou a implantação da liberda­de religiosa no país. Esta foi conquistada aos poucos e implantada definitivamente, em 1889, com a República. Antes disto, os cultos só podiam ser celebrados em assim chamadas casas de oração, isto é, casas sem forma exterior de templo: sem sinos, cruz, vitrais, ele. Dramático foi o momento em que o pastor Sauerbronn teve que sepultar o próprio filho, nascido durante a viagem, que faleceu aqui pou­cos dias após a chegada. Não lhe foi permitido sepultá-Io no cemitério local, destinado somente para os católicos. Foi-lhe doada urna pequena área de terras, sendo criado assim o Cemitério Luterano "Jardim da paz", um dos mais antigos antigos cemitérios protestantes do Brasil.


 



Por Armindo L. Müller

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