Imigração em Nova Petrópolis

Nilo Franck

Nilo

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INTRODUÇÃO


Muitos imaginam que nossos antepassados tinham uma vida monótona que era só trabalho durante os sete dias da semana, sem conforto e sem a variedade de diversões que hoje temos.


Será que não havia nada mesmo?


Logo no começo da imigração no século XIX nossos imigrantes tiveram que enfrentar uma série de percalços para se adaptarem a nova pátria. Entre tantas podemos citar: O Clima (mudança de hemisfério), as matas tropicais principalmente a Atlântica, a língua, os costumes, a alimentação, adaptação das sementes oriundas do país de origem, isto entre outras.


Nossos imigrantes foram oriundos de várias localidades, regiões e países diferentes e, em virtude disto, trouxeram uma bagagem cultural e de vida muito rica, por exemplo: maneira de pensar, se alimentar, se vestir, costumes, religiosidade enfim educação e o modus-vivendi.


Mesmo entre os de origem germânica vamos encontrar uma grande diversidade. Os que aqui aportaram, migraram de diversas regiões do que hoje é a Alemanha, pois esta não existia como país até 1871. De cada região de suas origens encontramos usos e costumes diferentes e peculiares, mesmo que a fonte de origem tenha sido a mesma.


IMIGRAÇÃO EM NOVA PETRÓPOLIS


Nova Petrópolis foi instalada em 07/09/1858 por ato público do então presidente da Província de São Pedra do Rio Grande do Sul, o Conselheiro Ângelo Muniz Ferraz. Sua instalação e povoamento foram à base de imigrantes germânicos e a eles e a seus descendentes brasileiros devemos a maior parte do desenvolvimento de Nova Petrópolis. Porque dizemos "a maior parte?" Porque embora tenha havido predomínio da corrente migratória alemã, esta não fui exclusiva, pois vamos encontrar elementos estrangeiros de procedência heterogênea tais como franceses, italianos, holandeses, austríacos e até "norte americanos" e no meio destes temos ainda os teuto-brasileiros descendentes dos imigrantes germânicos (já nascidos no Brasil).


Pelo relatório do Conselheiro Ferraz (05/11/1858) vimos que o pensamento que presidiu a escolha de Nova Petrópolis (local e nome) foi o de tomar-se ela um posto intermediário de um caminho projetado que deveria ligar Porto Alegre aos Campos de Cima da Serra (hoje São Francisco de Paula) daí ao Paraná, via Nonoay, e de lá atingir o centro-oeste brasileiro.


Foram criadas as diversas linhas divididas em "prazos" (lotes) que foran1 vendidos aos seus primeiros povoadores que as ocuparam respectivamente:


Linha Olinda e Linha Imperial (1858) Linha Cristina e Linha Sebastopol (1859) Linha Pirajá (1860)


Linha Povoação (sede do município) (1862) Linha Barros Pimentel (1863)


Linha Sertório (1864)


Linha Pirajá (ala meridional) (1865) Linha 13 Colônias (1866)


Linha Riachuelo (1868)


Linha Brasil (1874)


Linha Araripe e Linha Faria Lemos (1876) Linha Gonçalves Dias (1877)


Fazenda Pirajá (1880)


Os primeiros imigrantes de Nova Petrópolis (1858 a 1859) foram em sua grande maioria originários da Pomerânia província da Prússia (1ª e a maior leva). Vieram também imigrantes oriundos da Saxônia (a maior leva) Depois vieram imigrantes das seguintes regiões: da Província Renana da Prússia, da Província Renana da Baviera, do Grão Ducado de Baden, da


Cidade Livre de Frankfurt A Main, do Grão-Ducado de Meccklenburg Schwerin, do Grão­-Ducado de Hessen-Darmstadt, do Grão-Ducado de Hessen-Cassel, do Grão-Ducado de Oldenburg-Birckenfeld, de Holstein da Alscácia, da Silésia, de Luebeck, da Bohemia e de Hamburgo.


Vieram, simultaneamente, em 1859 e anos posteriores, imigrantes da Holanda, da França, de Luxemburgo, da Suiça-Aargau e de Italianos. Vieram também descendentes dos imigrantes que já haviam nascidos no Brasil.


Foi encaminhada para Nova Petrópolis a mais singular corrente migratória que o Rio Grande do Sul recebeu - a "norte-americana" - que não vingou. Após a Guerra da Secessão foram canalizados diversos irlandeses e escoceses, que não eram agricultores, e não se adaptaram criando problemas. A maioria voltou para os Estados Unidos.


COMO SE DIVERTIAM OS IMIGRANTES DE NOVA PETRÓPOLIS


 (Uma visão da vida social entre 1858 e 1958)


KERB


(para o católico é a festa do padroeiro da paróquia, para o evangélico aniíversário da igreja).


É a principal festa e a mais importante de nossos imigrantes. A origem do nome, segundo alguns, se originaria da expressão "Kircheweihefest" (festa da inauguração da igreja), e para outros o nome "Kerb" seria uma corruptela de "Körbe" (cesto ou balaio em alemão), e dava o nome aos bailes e as festas na colônia alemã, pois os alimentos e as decorações eram trazidos em "jacás" amarrados sobre o lombo de animais de carga.


O espírito do Kerb já se sentia até um mês antes quando começavam os preparativos.


Havia um ar de alegria e expectativa. Era a festa mais esperada do ano.


Os preparativos consistiam principalmente:


Faxina geral na casa: Cortinas eram lavadas, o assoalho escovado cuidadosamente alguns até pintavam a casa, o pátio era arrumado e as estradas de acesso preparadas. Era trocada a palha dos colchões, os travesseiros e as cobertas de penas eram colocados ao sol. Geralmente os visitantes vinham a cavalo outros a pé. Para isto a família preparava lugar para os animais bem como o melhor pasto.


Indumentária: Os rapazes e as moças geralmente ganhavam roupas novas que eram estreados na festa Calçados nem sempre. Cerca de dois meses antes da festa o "alfaiate" passava de casa em casa com amostras de tecidos, tirava as medidas e recebia as encomendas das fatiotas para os homens. As mulheres usavam vestidos que eram confeccionados pela mãe, por ela própria ou uma vizinha costureira. (urna máquina de costura a mulher tinha que ter).


Parte Religiosa: No domingo pela manhã havia o culto ou missa Após a cerimônia religiosa, na saída da igreja, os músicos recepcionavam o pessoal. Em seguida, antes de irem para casa, ao som de marchinhas e precedidos pelos músicos eram conduzidos ao salão. Lá o Coral cantava algumas canções e ao som da banda dançavam algumas "peças" ou "marcas". Era uma amostra do que seriam os bailes que iniciariam ao anoitecer e terminariam ao raiar do dia.


Os Bailes: Estes se realizavam geralmente no domingo à noite e na segunda feira. Ocasionalmente havia um na terça-feira. O baile de domingo era dos jovens (solteiros) e o da segunda era dos velhos (casais). No baile de terça todos podiam participar. Além das danças animadas, organizava-se varias brincadeiras como: subir no "pau de sebo" (quem conseguia ganhava uma dúzia de cervejas), Kerbflasche (garrafa de kerb) que eram garrafas de cerveja enfeitadas penduradas no teto do salão, em uma coroa, e quem arrancasse uma deveria pagar seis cervejas. Costumava-se também fazer a dança do chapéu, a dança da vassoura e outras.


As danças eram animadas e seguiam uma certa ordem: (Tanzordung) sempre começavam com a "Polonaise-Aufzug" e terminava com urna "Kehraus"


A culinária: Nestes dias eram servidas comidas especiais, desde o café da manhã, almoço, café da tarde e j&1ta.


No café da manhã e no da tarde eram servidos: café com leite, cucas, bolachas, pão, lingüiça fervida, morcilha branca e preta, geléias, schmier, mel, quark, queijo, rosca de polvilho era um festival de guloseimas.


No almoço eram servidos: sopas acompanhadas de bolachas, massa caseira, arroz, batatas fervidas batatas fritas (inteiras), porco assado no fomo, galinha receada, tripa e buchos recheados, bolinhos de carne, chucrute, saladas, outro festival de guloseimas.


Na janta: praticamente se repetiam os ingredientes do almoço.


A bebida que acompanhava o almoço e janta e, às vezes no café da tarde, era a cerveja caseira preparada pelos colonos, a base de gengibre. A chamada "Spritzbier”. Os colonos produziam também seu próprio vinho. Para as crianças era preparada a "framboesa" a partir de uma essência adquirida na "venda" que era fervida com água e açúcar transformando-se em xarope que depois de esfriado, era misturado com água e servido como refresco.


Com o tempo, passaram a comprar, em engradados, a cerveja e a gasosa. Esta gasosa era a alegria das crianças, pois eram raras as ocasiões em que tinham oportunidade de saboreá-la.


Se fosse no verão as bebidas eram "esfriadas" no poço, no arroio ou no porão da casa. Com antecedência eram produzidos pelas mulheres as bolachas caseiras de farinha "Mehl Toss", de merengue com polvilho "Schnee Toss", de melado ou mel "Sirop Toss" e de nata "Raam Toss", da mesma forma muitas cucas, bolos e doces de fruta em caldas feitas com açúcar (usado só em ocasiões especiais). A sobremesa que não poderia faltar era o sagu de vinho.


Dois detalhes: 1) O fato de um parente ou visitante freqüentar a casa de um colono no Kerb, era considerado um convite para este ir visitar o parente ou visitante quando fosse o Kerb da sua localidade.


2) Durante a tarde de domingo os homens jogavam cartas, e as mulheres jogavam "Víspora" além de cuidarem das crianças e prepararem o café da tarde.


HAUSBAU UND RICHTFEST


(Construção da casa e a festa da cumeeira)


Quando alguém construía, toda a vizinhança participava da construção, desde as crianças até os mais velhos. Esta casa era o primeiro lar de urna família naquele lugar. A sua construção tinha um significado todo especial. O dono da casa trazia e colocava a "pedra fundamental" o "primeiro prego" ou o "primeiro pino de madeira" na construção.


A construção era erguida e quando chegava à cumeeira acontecia à festa de agradecimento a todos os que haviam ajudado na edificação.


No topo da construção era colocado urna pequena árvore ou um galho enfeitado ou ainda uma coroa "Richtkranz".


Dependendo do poder financeiro do proprietário, a festa começava com o café da manhã.


Ao meio dia um almoço com carne, feijão e arroz, batata e uma sobremesa de doce com ovos. À tarde eram servidos café com cucas, e para as crianças cuca e bolachas. As famílias de poucas posses serviam urna sopa com ervilhas ou outros pratos feitos num panelão.


No primeiro domingo após o ingresso da família na casa nova, os vizinhos e parentes vinham visitar para tornar o café da tarde. Para a entrada festiva era colocada uma coroa na porta principal e plantada urna árvore (de preferência de nozes para proteger a casa dos raios).


Traziam um pão que passava pela entrada da porta, acompanhado de sal, simbolizando o desejo de nunca faltar comida naquela família e terem urna boa relação com a vizinhança.


SCHÜTZENFEST (Festa dos atiradores)


As sociedades de tiro ao alvo (Schützenvereine) surgiram na Alemanha ainda no século XIV com o nome de Rei do Tiro. Os participantes destes grupos deveriam se ajudar mutuamente corno irmãos.


Anualmente é escolhido o atirador que fizer o maior número de pontos ou o ponto mais elevado. Este é coroado como REI. O segundo e terceiro são os CONDES (ou cavalheiros conforme o local), e, as esposas são a RAINHA e as DAMAS. Durante a festa outras atividades paralelas acontecem: jogar cartas ou bolão.


No dia marcado é realizado o chamado "baile da Coroação". Um cortejo, e a banda de música se dirigem à casa do REI e o conduzem em procissão até o local do baile. Lá no salão o Rei e os Condes do ano anterior os aguardam. O REI recebe, do seu antecessor, a faixa (ou talabarte) com placas indicativas dos premiados em anos anteriores. Os CONDES recebem suas medalhas. O REI abre o baile com a "Polonaise" e depois os REIS e as RAINHAS dançam uma valsa no centro de um círculo formado pelos participantes da festa. Em seguida os CONDES e as DAJ\1AS também dançam. Finalmente todos os participantes dançam e confraternizam.


Como prêmio o REI do tiro e os CONDES recebem fichas para a cerveja que oferecem aos amigos. Estas fichas são cobertas pelas taxas das inscrições pagas pelos candidatos ao Rei do Tiro.


Como de costume, há um lauto almoço ou jantar.


Em Nova Petrópolis a Sociedade de Tiro ao Alvo foi fundada em 1895.


DAS ERNTFEST UND ERNTEDANKFEST


(Festa da Colheita ou Festa de agradecimento da Colheita)


Esta festa tem um sentido mais religioso. É o agradecimento pela safra ou colheita de alimentos para as pessoas e também o pasto e feno para os animais.


Os colonos levavam alguns frutos de seu trabalho (alimentos e ou produtos artesanais) para a igreja e os ofereciam como agradecimento, colocando os junto ao altar. Representa o agradecimento pelo alimento diário que está sobre nossa mesa.


Depois estes produtos eram leiloados ou doados para os mais pobres ou aqueles que tinham perdido sua safra ou parte dela.


No campo o pessoal se reunia ao ar livre ou no galpão para festejar a colheita finda.


Comiam pratos especialmente preparados para este dia e dançavam ao são das músicas. Esta festa é encontrada na maioria dos países do mundo.


SCHLACHTFEST


(Festa da matança do porco)


 


“Wer sein Schweín hungern läbt, bekommt schlechte Schinken. (Bauernregel)”


 


- Quem deixa o seu porco passar fome terá um presunto de má qualidade. (Regra do colono)


 


O imigrante engordava um porco, principalmente para a obtenção da banha. Mas sempre restava a carne que normalmente era transformada em lingüiça. Mas sempre aproveitavam as outras partes como tripas, bucho, couro, as patas e a cabeça. Como a refrigeração não existia, os colonos utilizavam outra técnica. As "costelas", a lingüiça e o toicinho eram defumados. As patas eram salgadas. E a carne, não utilizada para fazer lingüiça, era frita na banha e nela conservada. Com as outras "miudezas" eram preparadas a morcela preta e a branca, o "queijo de porco" e outras iguarias separadas para o almoço e a janta


Porém muitas vezes o porco era grande ou tinham mais de um, ou ainda os vizinhos também tinham um porco gordo ou até uma rês, então se juntavam as vizinhanças para fazerem as matanças em conjunto (economia de tempo, mão de obra e insumos).


Nesta ocasião a matança passava a ser uma atividade de cunho social. Primeiramente havia a combinação da data (geralmente aos sábados) e do local (o maior espaço coberto), depois se convidavam os vizinhos para ajudar. Participavam tanto os homens como as mulheres e as crianças. Todos ajudavam e a atividade seguia noite adentro e muitas vezes até no domingo.


Enquanto se carneava os animais, na cozinha eram preparadas: para o almoço uma sopa, as "miudezas" um purê de batatas e para a janta um "Surfleisch" (Carne de panela) com defumados. O chucrute (Sauerkraut) não podia faltar.


Também havia o "empréstimo" de carne para os vizinhos que depois, quando carneavam seu porco, a devolviam. Desta forma sempre havia carne fresca na mesa da maioria dos colonos


GESANGUND MUZIKVEREIN (Sociedades de Canto e Música)


O amor á música


Quase todas as sociedades (clubes) de Nova Petrópolis têm em sua denominação o termo "Sociedade de Canto e ...". O gosto pela musica foi um dos valores mais significativos da bagagem dos imigrantes. Foi muito importante o papel exercido pelo canto coral para agregar as famílias e vizinhos. Reuniam-se entre si acertavam as vozes e enchiam o ar com suas cantigas tradicionais (Volkslieder) trazidas de suas aldeias de origem.


Cada coral tinha a sua bandeira com elementos que identificavam sua sociedade. A "inauguração" da bandeira era uma data especial. Reuniam-se os corais de toda a vizinhança e era aquela festa. Os membros da sociedade pagavam uma "anuidade" para manter estes corais. Os ensaios eram realizados a noite na casa dos colonos.


Os corais eram parte importante na vida dos imigrantes. Eles não só abrilhantavam as reuniões das famílias, mas também festas, casamentos e o kerbs.


Eram também muito importantes nos enterros. Quando morria alguém, principalmente se era "sócio" do coral, eles se faziam presente e entoavam cantos de melodias suaves, cheios de palavras de conforto, desde a casa mortuária ate o cemitério. Nestas ocasiões a bandeira do coral não ficava desfraldada, mas ficava enrolada em uma capa preta. Não era exatamente uma diversão, porém destaca-se o espírito de compreensão e solidariedade.


Cada uma das "linhas" possuía sua sociedade de canto. Algumas até duas.


OKTOBERFEST (Festa de Outubro)


Festa histórica alemã desde 1810 em Munique (München) para celebrar o casamento do príncipe Ludwig com a princesa Therese.


Hoje esta festa acontece em várias partes do mundo. Todas têm o mesmo principio, mas criaram suas características próprias.


No Brasil, iniciou-se no oeste catarinense, mas a mais divulgada é a de Blumenau. No Rio Grande do Sul ela mais conhecida Porto Alegre (Sogípa), Santa Cruz, Igrejinha e outras. Em Nova Petrópolis ela também era festejada, porém em menor escala.


 


VOLKSTANZ (Danças Folclóricas)


 


Os imigrantes trouxeram em sua bagagem cultural alem do amor pela musica, também o gosto pela dança Algumas eram quase "universais", isto e, todas as correntes migratórias dançavam. Eles não só dançavam, mas também faziam coreografias e brincadeiras.


Geralmente faziam estes bailes nas casas dos colo

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