A Imigração Alemã no Brasil
A IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO BRASIL
Armindo L. Müller
Nova Friburgo - RJ
CRONOLOGIA DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ N0 BRASIL
1819 - Bama - São Jorge dos TIhéus (São Jorge da Cachoeira de Itabuna) - estabelecidos 161 alemães (28 famílias), às margens do Cachoeira, por Peter Weyll e Adolf Saueracker. Cultivaram fumo, cacau e cereais. Em 1824 havia ainda 20 habitantes. Administrada por Johann Philipp Henning.
1819 - Rio de Janeiro - Nova Friburgo - colonos suíços. 1820 - Rio de Janeiro - Nova Friburgo - colonos suíços.
1822 - Bahia - Frankenthal - criada por von Schaffer às margens do arroio Jacarili'1dá, afluente do Peruípe (4.356 hectares). Em 1824 teria contado 20 pessoas (4 famílias), oriundas da Francônia. Seria a colônia de Almada ? Nova remessa (1823) foi desviada para Nova Friburgo-RJ, em 1824. Consta que o major von Schaeffer ter-se-ia recolhido a esta colônia e ali falecido.
1822 - Rio de Janeiro - Fazenda da Mandioca (em Petrópolis) - 40 famílias alemãs contratadas pelo médico Georg Heinrich von Langsdorff (1774-1852),
tendo sido os primeiros colonos IJbraços livres" a trabalhar numa fazenda, no Brasil.
1824 - Rio de Janeiro - Colônia do Morro Queimado (Nova Friburgo) - estavam destinados à Colônia de Almada, no sul da Bahia, mas foram instalados em Nova Friburgo, em 03.05.1824. Vieram nos navios IJ Argus" e "Caroline", angariados pelo major von Schãffer.
1824 - Rio Grande do Sul - Colônia de São Leopoldo - a segunda leva organizada pelo major von Schãffer, chegou em 25.07.1824, no" Anna Lonise".
1824 - Rio Grande do Sul- Terceira leva do major SchãÍfer. Vieram no "Germânia". Também foram para o sul.
1828 - Santa Catanna - São Pedra de A1cântara - 523 colonos e 112 exmercenários, que vieram no brigue "Ltúza" (276 pessoas) e no bergantim "Marquês de Viana" (359 pessoas). Em 1829 vieram mais 50 (princípalmente soldados) e, em 1830,9 colonos.
1829 - São Paulo - Santo Amara - 17 famílias 1829 - São Paulo - Itapecirica - 21 famílias
1830 - Pernambuco - Colônia de Santa Amélia - composta de náufragos.
1837 - São Paulo - lpanema - o major Jacob Bloem, que dirigia a siderÚrgica de Ipanema, fixou 56 alemães ali, e 171 para trabalhar na estrada Cubatão-São Paulo.
1837 - Rio de Janeiro - 238 colonos do "Justine", destinados à Austrália, estabelecidos no Caminho das Cabras, na serra da Estrela, em Petrópolis.
1845 - Rio de Janeiro - Petrópolis -1818 colonos estabelecidos na fazenda Córrego Seco. Muitos não permaneceram e seguiram para o sul.
1847 - São Paulo - 80 famílias contratadas pelo senador Vergueira, para trabalhar em sua fazenda, em sistema de meação, em Ibicaba.
1847 - Santa Catarina - Santa Isabel, às margens do Cubatão, na foz do rio dos Bugres - 256 colonos do Hunsrück
1847 - Espírito Santo - Santa Isabel (Domingos Martins) - às margens do rio Jucu, }.'1êssoas li><,=, Birkenfeld.
1848 - Rio de Janeiro - Macaé - remanescentes de 600 famílias abandonadas em Niterói e estabelecidas em Macaé.
1849 - Rio Grande do Sul- Colônia de Santa Cmz -12 pessoas.
1850 - Santa Catarina - Colônia São Paulo de Blumenau - fundada por Hermann Bruno atto Blumenau, em 02.09.1850 - com 17 pessoas, em 1851, 8 e, em 1852; 110,
1851 - Santa Catarina - Colônia Dona Frandsca - 124 colonos, que vieram no "Colon" .
1852 - Rio de Janeiro - Fazenda Santa Rosa - do barão de Baependi -132 colonos. 1852 - Rio de Janeiro - Fazenda Independência - de Nicola1.l Antônio Nogueira da Gama -172 agricultores.
1852 - Rio de Janeiro - Fazenda Santa Justa - de Brás Carneiro BeUens -155 c010-
nos.
1852 - Rio de Janeiro - Fazenda Coroas - do marquês de Valença -143 colonos.
1852 - Rio de Janeiro - Fazenda Martim de Sá - de João Cardoso de Menezes - 67 colonos.
1852 - Minas Gerais - Colônia D. Pedra II Ouiz de Fora).
1853 - Santa Catarina - Santa Teresa - na estrada para Lajes, onde foram instalados 19 soldados.
1855 - Espírito Santo - Colônia de Rio Novo, perto de Itapemirim.
1856 - Espírito Santo - Colônia de Santa Leopoldina (Jequitibá - Santa Maria Campinho - Califómia - Santa Joana - Santa CUIZ), criada para receber 1144 colonos, libertados do contrato de parceria de Ubatuba.
1856 - Minas Gerais - Mucuri (Nova Filadélfia) - Teófilo OttonL
1857 - Rio Grande do Sul- ColôrÜa Santo Ângelo (hoje: Agudo). 1858 - Minas Gerais - Colônia de Mariano Procópio (Juiz de Fora).
1860 - Santa Catarma - Colônia de Teresópolis - 40 famílias de Holstein, oriundos das plantações de café do Rio de Janeiro (desde 1849), às margens do São Miguel.
G. T
A - Os primeiros imigrantes alemães no Brasil
Os alemães já se fazem presentes no Brasil por ocasião do seu descobrimento. Acompanhava a expedição de Cabral o mestre João (Meister Johann).
Conhecido é o episódio, em que Hans Staden, que foi aprisionado pelos índios no litoral paulista, preenchia o seu tempo cantando hinos luteranos, por volta de 1547. Podemos citar, também, Heliodoro Hesse e Ulrich Schmiedel.
Experiências com agricultores teutos foram feitas na Bahia: na Colônia de Cachoeira de Santa Leopoldina (Leopoldínia), em 1818, pelo hamburguês Johann Philipp Henning Freyreiss e, em Frankenthal, em 1822, pelo Major Schaeffer. Mas foram de pouca expressão e o pequeno número de imigrantes, em pouco tempo, tomou-se uma espécie de escravos dos grandes proprietários da região ou debandou. Infelizmente desconhecemos os nomes destes imigrantes. Mas um fato chama a atenção na história de Nova Friburgo: Johann Nicolaus Caesar é membro da Comunidade Luterana e, por ocasião do batismo de um dos filhos, consta que ele procedia da Bahia. Seria ele um dos descendentes daqueles pioneiros? Convém destacar que os imigrantes vindos no "Argus" vinham destinados para a Colônia de Almada, localizada nesta mesma região.
No Rio de Janeiro, já em 07.08.1821, era fundada a Sociedade Germânia, com trinta sócios fundadores, todos de origem germânica.
O major von Schãffer foi encarregado por José Bonifácio de trazer soldados para o Brasil. Ao mesmo tempo o agente Caldeira Brant arrebanhava em Londres veleiros e vapores e contratava oficiais e marujos para a frota. Logo após a proclamação da independência foi criado um regimento de estrangeiros. Muitos oficiais, a maioria franceses, foram contratados. Esperava-se também contar com a colônia suíça de Nova Friburgo. Havia na época um batalhão composto principalmente de suíços de fala francesa, que haviam sido aliciados ou obrigados que deveria ser o ceme de uma guarda para a segurança pessoal do imperador. Podemos confirmar isto com o seguinte depoimento: "A criação dos Corpos estrangeiros no exército do Brasil data de 8 de janeiro de 1823, quando por decreto dessa data foi mandado organizar um Regimento de Estrangeiros, que seria composto de um estado-maior e três batalhões. h1cumbiu-se do recrutamento, na Alemanha, o major Jorge Antônio Schaffer [...]".
Os primeiros navios a trazerem imigrantes alemães para o Brasil foram:
1. "Argus" chegou em 13.01.1824 com 150 soldados, 134 lavradores e 24 canhões. Os
lavradores foram estabelecidos em Nova Friburgo.
2. "CamUne" (primeira viagem) - veio em 13.04.1824 com 174 imigrantes e 51 soldados.
Os colonos também foram estabelecidos em Nova Friburgo.
3. "AnnaLouise" chegaram em 04.06.1824 - 325 passageiros. Em 09.06.1824, o Mons. Mi-
randa oficia: "Há quatro dias chegaram mais 325 lavradores alemães, 269 para a tropa e o resto lavradores; aqueles, os mandei fossem entregues ao Batalhão de Estrangeiros, e estes, ainda S.Ml me não determinou o seu destino". Foram enviados para São Leopoldo.
4. "Germânia" veio em 14.09.1824 com 182 soldados e 70 colonos, entre os quais 8 reclu-
sos e outros, somando 275 passageiros.
5. "Georg Friedrich" (primeira viagem) - chegou em 11.10.1824 com 4 oficiais, 346 soldados, 1
médico e 130 colonos, somando 462 passageiros, entre os quais 169 reclusos.
6 . "Peter e Marie" chegou em 12.11.1824 com 206 soldados e 74 lavradores.
7. "Der Kranich" (primeira viagem) - chegou em 15.01.1825 com 77 soldados e 282 lavrado-
res.
8. "'Triton"
9. "Caroline" (segunda viagem) - chegou em 05.04.1825 com 384 imigrantes (13 oficiais,
4 cirurgiões e boticários, 3 cadetes, 31 inferiores, 6 tambores, 264 soldados e 63 colonos).
10. "Wilbeimine" chegou em 21.04,1825 trazendo grande número de mercenários e 160 cri-
minosos de Mecklenburgo.
11. "Fortuna" chegou em 02.10.1825
12 ."Friedrich Heinrich" chegou em 08.11.1825
13. "Georg Friedrich" (segunda viagem) - chegou em 20.11.1825
14 . "Creole" chegou em 28.11.1825
15. "De.' Kranich" (segunda viagem) - chegou em 19.01.1826
Segundo Cansanção de Sinimbu, 342 lavradores foram para Nova Friburgo: 195 homens e 147 mulheres~ 128 casados e 214 solteiros.
Em 08.05.1825, o major diretor Francisco de Salles Ferreira de Souza oficia ao Ministro de Estado dos Negócios Estrangeiros, Luiz José Carvalho e Mello: "Tenho a honra de participar a VExa. que em o dia 22 do mês passado chegaram à jàzenda do cel. Francisco Ferreira da Cunha os lavradores alemães conduzidos pelos majores do Regimento de Infantaria de Milicias número 8: Antonio Mariano de Souza Lobo e Francisco Dias Lopes (aonde me achava para os receber), os quais me.fizeram entrega de 276 - número como consta no mapa que me apresentaram ~ ficando uns em 1\4acaeu, entre homens, mulheres e crianças), e descansando eles em o dia 30, na conjormidade das ordens [. .. ]. Julguei, então, conveniente (para melhor ordem e regularidade de sua marcha), fazê-Ias seguir em duas divisões, sendo a primeira conduzida pelo capitão-mar de Cantagalo Manoel Vieira de Souza, conduzindo eu a segunda. Chegando a primeira divisão a esta colônia em o dia 3 de maio e a segunda em o dia 4 [ ... ].
Estes imigrantes, que vieram acompanhados do pastor Friedrich Oswald Sauerbronn, fundaram a primeira igreja evangélica da América Latina, em Nova Friburgo.
Presume-se que até 1829 Schaeffer tenha trazido cerca de 10 mil soldados, lavradores e operários alemães para o Brasil. Mas estes últimos parecem ter sido um disfarce, pois o império brasileiro queria soldados. O relatório de um militar argentino o confirma: "As tropas argentinas, perseguindo os brasileiros derrotados na batalha de Ituzaingó, encontraram grande número de alemães que não mais desejavam participar da guerra. Eles vieram ao nosso encontro e nos disseram que foram trazidos para cá, sem saber exatamente para que finalidade" (Frõschle 73).
Conseqüências imediatas da imigração alemã:
1.- Com a vinda dos imigrantes aconteceu um dos mais profundos projetos de reforma agráriajá levados a efeito no país. Até então reinava um feudalismo cruel: os portugueses, não afeitos ao trabalho braçal, detinham os enormes latifúndios e os escravos trabalhavam. Com a vinda dos suíços e especialmente dos alemães teve início urna aooricultura familiar auto-sustentável. Se, aqui, não deu certo, não foi por causa dos imigrantes. Eles foram enganados desde o momento da contratação na Europa O imperador desejava soldados para aumentar os batalhões e fortalecer a independência recém promulgada. A vinda de lavradores era tão somente um disfarce. F oram enviados para cá, onde receberam terras impróprias para a agricultura. A grande maioria debandou. E os poucos remanecentes foram completa e rapidamente aculturados, perdendo a identidade. Mas em outros estados brasileiros esta maneira de praticar agricultura vingou.
2. - Com a vinda destes imigrantes, quase todos protestantes, começou a implantação da liberdade religiosa no país. Esta foi conquistada aos poucos e implantada definitivamente, em 1889, com a República. Antes disto, os cultos só podiam ser celebrados em assim chamadas casas de oração, isto é, casas sem forma exterior de templo: sem sinos, cruz, vitrais, ele. Dramático foi o momento em que o pastor Sauerbronn teve que sepultar o próprio filho, nascido durante a viagem, que faleceu aqui poucos dias após a chegada. Não lhe foi permitido sepultá-Io no cemitério local, destinado somente para os católicos. Foi-lhe doada urna pequena área de terras, sendo criado assim o Cemitério Luterano "Jardim da paz", um dos mais antigos antigos cemitérios protestantes do Brasil.
Por Armindo L. Müller