CHEFES DE ESTADO E DE GOVERNO DE ORIGEM ALEMÃ NA AMÉRICA LATINA

Nilo Franck

Nilo

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No Primeiro Encontro das Comunidades de Língua Alemã na América Latina, realizado em Montevidéu, Uruguai, em 2003, proferimos uma palestra sobre o assunto, com o apoio de Pietro Sandri Poli, o idealizador da ideia CAAL. Passados nove anos, novas personagens ingressaram na relação e, principalmente, as pesquisas ampliaram consideravelmente o contingente de governantes de origem alemã na América Latina. Incluimos, também, os raros casos de Chefes de Governo (Primeiro Ministros) em nossos países (Cuba e Peru), bem como, dos substitutos legais (Vice-Presidentes).

Assim, desejamos apresentar esta nova versão ampliada como uma homenagem pessoal ao Sr. Pietro Sandri Poli, na oportunidade em que a sua ideia alcançou a marca de 10 anos de realização contínua. Também uma homenagem à FAAG – Federación de las Asociaciones Argentinas Germanas pela organização deste significativo décimo Encontro, e, em especial ao seu Vice-Presidente Rudolf Hepe, que desde o primeiro Encontro de Montevidéu está de maneira intensa e ativa envolvido de uma ou outra forma na realização de todos os CAAL`s. Um dos grandes expoentes de nossas comunidades alemães e grande companheiro em levar adiante a ideia de Pietro Sandri Poli nesta primeira década.

Sabemos que inicialmente os imigrantes e seus descendentes não se envolveram na política nacional, iniciando aos poucos na política local, municipal e estadual/provincial. Se de um lado havia o desconhecimento do idioma oficial (espanhol ou português) que era um fator restritivo, de outro lado as elites políticas tradicionais geralmente temiam a ascendente “concorrência” dos descendentes de língua alemã.

Este é o grande objetivo do presente trabalho em demonstrar como os filhos, netos, portanto os descendentes dos imigrantes de língua alemã, muitas vezes até já com um ascendente não alemão, ao assumirem as posições de destaque na vida política de seus países, provaram sua perfeita integração no país que acolheu os imigrantes. Isto tanto nos países que receberam um grande fluxo de imigrantes de língua alemã, como nos países com um número reduzido.

Encontramos Chefes de Estado na América Latina orgulhosos de sua origem alemã, outros não mantendo mais nenhuma relação com as suas comunidades de origem, alguns ainda dominando o idioma alemão, outros não, alguns chegaram ao poder via golpe militar, outros via democrática, alguns exercendo um governo ditatorial, outros de forma democrática e constitucional, a grande maioria honrando os seus mandatos, embora, felizmente em número reduzido, uns poucos ética - e moralmente não honrando os seus mandatos. Mas em forma geral, todos demonstrando a perfeita integração na vida social como cidadãos de seus países.

Na América Latina predomina a forma republicana, mas existem dois países (Brasil e México) que em algum período adotaram a forma monárquica, com imperadores de origem alemã e austríaca. Estes, na concepção clássica não poderiam ser incluídos como imigrantes. Mas, tratando-se de Chefes de Estado de origem alemã, foram incluídos no presente estudo.

Antes de iniciarmos o relacionamento dos nomes dos Chefes de Estado e de Governo de origem alemã na América Latina, a listagem dos países obedece o critério alfabético, esclarecendo que a denominação de “alemão” não significa com exclusividade os originários do território da Alemanha, mas também de todas demais regiões europeias de língua alemã, notadamente da Austria e da Suiça.

Ainda, para a devida ciência, cabe mencionar a diferença entre os sobrenomes usados no português e espanhol. Na tradição portuguesa, quando utilizado, o sobrenome materno antecede ao paterno, como também é costume na língua alemã (quando usado). Já a tradição espanhola indica o sobrenome paterno e após o sobrenome materno.


ARGENTINA

A lista dos países, em ordem alfabética, inicia numa feliz coincidência, com o país anfitrião de nosso X CAAL. Iniciamos com Edelmiro Julián Farrell (1887-1980), general, origem paterna irlandesa e materna Catarina PLAUL, origem alemã (avós eram alemães). Foi Vice-Presidente 15/10/1943-25/02/1944 e Presidente 25/02/1944-04/06/1946.

O Presidente do Senado Italo Argentino LUDER (1916-2008), advogado, de origem alemã e italiana, no impedimento temporário da Presidente Isabel Peron, exerceu a presidência de 13/09/1975-17/10/1975.

Foi Vice-Presidente Carlos Frederico RUCKAUF (1944), advogado, no período de 08/07/1995-10/12/1999.

Presidente eleito Néstor Carlos KIRCHNER (1950-2010), advogado, de origem alemã, suíço-alemã e croata, exerceu seu mandato de 25/05/2003-10/12/2007. Não mantinha relações com a comunidade argentino-alemã, não dominando o idioma alemão.

Sua esposa Cristina Elisabet Fernandez de KIRCHNER (1953), também advogada, assumiu a presidência em 10/12/2007, agora já no segundo mandato, pelo lado paterno de origem espanhola e materno, mãe Ofélia Esther WILHELM, de origem alemã. Geralmente é considerado de origem alemã pelo seu sobrenome de casada KIRCHNER, o que evidentemente não corresponde. Igualmente, como seu marido não domina o idioma alemão e nenhuma relação mantem com a comunidade argentino-alemã.


BOLÍVIA

Conta com uma série de presidentes de origem alemã, iniciando com Germán BUSCH Becerra (1904-1939), tenente-coronel, filho de um médico alemão e mãe boliviana, herói da Guerra do Chaco, assumindo a presidência com um golpe militar, 13/07/1937-23/08/1939. Iniciou como presidente “de fato”, em 1938 convocou uma Assembleia Constituinte, que aprovou uma nova Constituição, notabilizada pelo seu caráter social, e o elegeu presidente constitucional. Mas em 1939 se declarou ditador. Neste mesmo ano, conforme a versão oficial, cometeu suicídio no Palácio. Sua morte até hoje permanece um mistério, não ficando claro se houve um assassinato ou suicídio (que não combina muito com sua personalidade).

Enrique HERTZOG Garaizabal (1896-1981), exerceu a presidência 10/03/1947-22/10/1949.

Hugo BANZER Suarez (1926-2002), general, o mais conhecido dos presidentes de origem alemã da Bolívia, exerceu o poder em dois períodos, 21/08/1971-21/07/1978, regime militar, e 06/08/1997-07/08/2001 como presidente constitucional. Sempre manifestou seu orgulho de sua origem alemã paterna. Em razão de uma grave doença, não completou seu mandato, apresentando sua renúncia.

Alberto Natusch BUSCH (1933-1994), coronel, pelo lado materno sobrinho de Germán BUSCH e pai de origem árabe, assumiu o poder com um golpe militar, permanecendo por duas semanas no cargo (01/11/1979-16/11/1979),e, num acordo político a deputada Lydia GUEILER Tejada (1921-2011) exerceu a presidência por um curto mandato (16/11/1979-17/07/1980), derrubado por um golpe militar.

Em decorrência da crise política assumiu a presidência Carlos Diego Mesa GISBERT (1953), historiador, pelo lado materno de origem alemã, no período de 17/10/2003-09/06/2005. Anteriormente foi Vice-Presidente de 06/08/2002-17/10/2003.


BRASIL

O elemento alemão esteve presente na monarquia brasileira (até 1889), dando-lhe uma situação peculiar, uma vez que, embora de origem alemã-austríaca, os monarcas não foram imigrantes no sentido restrito.

DOM PEDRO I (1798-1834), embora considerado português, teve antepassados alemães, pelos casamentos da dinastia dos Braganças com princesas alemães. Foi Regente do Reino do Brasil (22/04/1821-07/09/1824), Rei do Brasil (07/09/1824-12/10/1824) e Imperador (12/10/1824-07/04/1831). Sua esposa LEOPOLDINA VON HABSBURG (1797-1826), natural da Austria, foi indicada por Dom Pedro como Regente Interina, durante a sua viagem a São Paulo (13/08/1824-07/09/1824). Nesta condição de Regente Interina em exercício, ao receber correspondência das cortes de Lisboa, em reunião do Conselho de Estado por ela presidida, em 02/09/1824 declarou formalmente a separação do Brasil de Portugal, assumindo a condição de primeira Chefe de Estado feminina no continente.

DOM PEDRO II (1825-1891), filho da Arquiduquesa Leopoldina, com a renúncia de seu pai tornou-se o segundo Imperador do Brasil (07/04/1831-15/11/1889) tendo sido declarado maior de idade aos 14 anos, em 18/07/1841. Sua filha a Princesa Herdeira DONA ISABEL (1846-1921) em três oportunidades assumiu a Regência do Império Brasileiro, em 25/05/1871-31/03/1872, em 26/03/1876-25/09/1877 e em 30/06/1887-22/03/1888.

No período republicano somente na segunda metade do século XX encontramos Chefes de Estado de origem alemã. Augusto HAMANN RADEMACHER GRÜNEWALD (1905-1985), almirante, foi integrante e seu chefe da Junta Militar em 31/08/1969-30/10/1969, na condição de seu Presidente, bem como Vice-Presidente em 30/10/1969-15/03/1974, assumindo interinamente a presidência.

O mais conhecido e destacado teuto-brasileiro como Presidente da República foi Ernesto GEISEL (1907-1996) general, com mandato de 15/03/1974-15/03/1979. Era filho de imigrante alemão e mãe teuto-brasileira, de religião luterana. No livro de registro da igreja luterana seu nome está grafado na forma alemã de Ernst.

Fernando COLLOR de Melo (1949), economista, Presidente de 15/03/1990-02/10/1992, tornou-se conhecido por ter sofrido o impedimento por corrupção pelo Congresso Nacional. De parte materna é neto de um teuto-brasileiro de nome Collor, forma aportuguesada de KOLLER, adotado de seu padastro, pois tinha nascido como BOECKEL.

Seu sucessor foi Itamar Cautiero FRANCO (1930-2011), engenheiro, Vice-Presidente de 15/03/1990-02/10/1992, e Presidente de 02/10/1992-31/12/1994. Foi de origem alemã, pois sua avó paterna era da família STIEBLER.

Uma menção especial merece Juscelino KUBITSCHEK de Oliveira (1902-1976), médico, Presidente de 31/01/1956-31/01/1961, célebre por ter sido o construtor da capital Brasília. Pelo lado materno descende de um imigrante oriundo da Bohemia e seria de origem checa (seu sobrenome seria uma germanização do checo Kubicek), ressaltando-se que na Alemanha existem várias famílias sudeto-alemães com o nome de Kubitschek, que permite a possibilidade de uma origem alemã parcial do presidente brasileiro.

Marco Aurélio SPALL Maia (1965), torneiro mecânico, como Presidente da Câmara de Deputados (segundo na linha sucessória), assumiu por diversas vezes interinamente (2011-2012) a função de Presidente da República nas ausências conjuntas do país da presidente e do vice-presidente. Tem origem alemã pelo lado materno.



CHILE

No Chile não ocorre constitucionalmente a eleição de um Vice-Presidente. Esta função é exercida pelo Ministro do Interior, cargo ocupado por diversos chilenos de origem alemã, iniciando por Carlos FROEDDEN LORENZEN (1887-1976), almirante, que exerceu o cargo diversas vezes, 08/04/1927-23/05/1927, 06/08/1930-13/07/1931 e 23/07/1931-26/07/1931. Foi destacado integrante da sociedade chileno-alemã.

Pouco antes, Pedro Pablo DARTNEL Encina (1873-1944), general, filho de irlandês e avó paterna alemã LOTHER, foi Presidente por poucos dias (23/01/1925-27/01/1925) e posteriormente integrando uma junta, de 27/01/1925-20/03/1925.

Outro Vice-Presidente Vicente Merino BIELICH (1889-1977), vice-almirante, ocupou a função de Presidente no período de 03/08/1946-13/08/1946.

Osvaldo KOCH KREFFT (1896-1963), advogado, foi Presidente em exercício nos períodos de 04/07/1953-13/07/1953 e 03/08/1955-10/08/1955.

Ainda, Enrique KRAUSS Rusque (1932), advogado, foi Ministro do Interior de 11/03/1990-11/03/1994, período em que exerceu a presidência interina por diversas vezes.

Eduardo FREI Montalva (1911-1982), advogado, foi Presidente em 03/11/1964-03/11/1970. Foi uma importante liderança política, filho de um imigrante austríaco de origem suíça. Seu filho Eduardo FREI Ruiz-Tagle (1942), engenheiro civil, exerceu a presidencia em 11/03/1994-11/03/2000.

Veronica Michelle BACHELET (1951), médica, foi a primeira mulher que ocupou o cargo de Presidente do Chile (11/03/2006-11/03/2010). O nome claramente indica uma origem francesa. Entretanto, seu avô paterno foi Alberto Bachelet BRANDT, com ascendência suíço-alemã.


COLOMBIA

No início do século passado Diego BEHENK, chamado de Gringo, governou o país de 27/07/1909-04/08/1909.

O Presidente Alfonso Antonio Lázaro Lopez MICHELSEN (1913-2007), advogado, filho de ex-presidente e mãe de origem alemã, exerceu a presidência em 07/08/1974-07/08/1978.

Já Ernesto SAMPER Pizzaro (1950), advogado e economista, de família colombiana-alemã, em seu mandato de 07/08/1994-07/08/1998 tornou-se conhecido por possíveis ligações com traficantes de drogas, que o teriam apoiados na campanha eleitoral.


COSTA RICA

Embora a família paterna do Presidente Daniel ODUBER Quirós (1921-1991), advogado, mandato de 08/05/1974-08/05/1978, é de linhagem francesa, o seu avô Francisco Esteban Oduber KECKMAYER, com sua origem alemã, havia estudado filosofia na Universidade de Berlin e química na Universidade de Göttingen.

O Presidente José Maria Figueres OLSEN (1954), engenheiro industrial, filho do legendário Presidente José Figueres e de mãe norteamericana de origem alemã/dinamarquesa, exerceu o mandato em 08/05/1994-08/05/1998.

O Vice-Presidente Rodrigo ALTMANN Ortiz, engenheiro e empresário, mandato de 08/05/1978-08/05/1982, assumiu interinamente a presidência, é filho de Rodrigo ALTMANN Echeverría e Paulina Ortiz STRADTMANN.


CUBA

Sem significativa imigração alemã, tão somente consta um Primeiro Ministro de origem alemã Óscar B. GANS y Lopez Martinez (1903-1965), no período de 01/10/1951-10/03/1952.


EL SALVADOR

O Presidente Alfredo Cristini BURKHARD (1949), administrador e empresário, filho de mãe de origem alemã. Exerceu o cargo no período de 01/06/1989-01/06/1994.

O Vice-Presidente Carlos Quintanilla SCHMIDT, advogado, também descendente pelo lado materno da pequena, mas dinâmica colônia alemã do país, esteve no cargo de 01/06/1999-01/06/2004.


EQUADOR

O Presidente Jorge Jamil Mahuad WITT (1949), advogado, filho de libanês e mãe de origem alemã, não concluiu seu mandato (10/08/1998-21/01/2000), destacou-se por seus esforços n a assinatura da paz com o Peru.


GUATEMALA

Este país da América Central, que contou com uma relativa grande colônia de alemães, caracteriza-se pelo número de Vice-Presidentes de origem alemã. Inicia com Eduardo Rafael Cáceres LENHOFF (?-1980), licenciado, com mandato de 01/07/1970-01/07/1974, seguindo com Francisco Villagrán KRAMER (1927-2011), advogado, de 01/07/1978-12/09/1980, renunciou, e Arturo HERBRUGER Asturias (1912-1999), advogado, de 18/06/1993-14/01/1996.

Como Presidente Óscar José Rafael BERGER Perdomo (1946), advogado, de origem belga/alemã, mandato de 14/01/2004-14/01/2008. O seu Vice-Presidente foi Eduardo STEIN Barillas (1945), sociólogo, também de origem alemã.


HONDURAS

Ricardo Rodolfo Maduro JOEST (1946), economista e empresário, exerceu a presidência de 27/01/2002-27/01/2006. Nascido no Panamá, filho de pai panamenho e mãe guatemalteca, naturalizada hondurenha, esta, filha de um imigrante alemão e hondurenha. Esta sua um tanto conturbada origem hondurenha, permitiu ao neto de alemão se eleger Presidente e Honduras.


MÉXICO

Por ocasião da invasão francesa (Napoleão III), foi proclamado o Segundo Império do México, com o Imperador MAXIMILIANO I (1832-1867), da dinastia austríaca dos Habsburgos. Reinou de 10/04/1864-15/08/1867. Com a retirada das tropas francesas, permaneceu Maximiliano com um número reduzido de soldados mexicanos leais. Derrotado pelos republicanos, foi preso e fuzilado em Querétaro, tendo, assim, o mesmo destino do primeiro Imperador Iturbide (Agustin I).

Embora extrapolando o enfoque de nossa palestra, queremos citar o fato de o Imperador Maximilano I, por não ter tido filhos, visando dar continuidade a uma dinastia mexicana, tratou de adotar como filhos e herdeiros descendentes de Iturbide, unindo as duas dinastias imperiais mexicanas. Os descendestes destes adotados são pretendentes a um teórico trono mexicano, sendo o atual chefe desde 1946 Maximilano VON GÖTZEN Iturbide, nascido em 1944, que vive com sua família na Austrália, sendo o seu filho Fernando GÖTZEN Iturbide (1992), herdeiro da família.

O Presidente Miguel ALEMÁN Valdés (1900-1983), advogado, teve seu mandato de 01/12/1946-30/11/1952 e era de origem suíço-alemã.

O Presidente Vicente FOX Quesada (1942), administrador e empresário, com mandato de 01/12/2000-30/11/2006, cuja família se radicou em 1915 no México, oriunda dos Estados Unidos. Seu avô paterno José Luis FOX FLACH nasceu nos Estados Unidos com o nome Joseph Louis FUCHS, sendo filho dos imigrantes católicos alemães Louis FUCHS e Catherina Elisabetha FLACH. A família FUCHS trocou o seu nome para FOX depois de 1870, que foi uma tradução literal do idioma alemão para o inglês (raposa).


NICARÁGUA

Como títere durante o regime dos Somozas, René SCHICK Gutiérrez (1909-1966), advogado, descendente de suíço-alemães, foi Presidente de 01/05/1963-03/08/1966.

José Enrique Bolaños GEYER (1928), engenheiro industrial, foi Vice-Presidente de 10/01/1997-10/01/2002 e Presidente de 10/01/2002-10/01/2007.


PANAMÁ

O Vice-Presidente Dominador KAISER Bazán (1937-2006), engenheiro, exerceu o mandato de 01/09/1999-01/09/2004, de origem alemã, veio a falecer em acidente.


PARAGUAI

Embora a imigração europeia ao país começou relativamente tarde em 1870, os primeiros imigrantes alemães chegaram em 1881, foi o primeiro país sulamericano a contar com um presidente de origem suíço-alemã. Já em 1871 chegou ao país o suíço-alemão Santiago Otto SCHAERER. Era viúvo e casou com a paraguaia Isabel de Vera y Aragón e em 02/12/1873 nasceu em Caazapá Eduardo SCHAERER, que cedo se integrou na vida política paraguaia através do partido liberal, atuando como prefeito municipal de Asunción e ministro do Interior. Eduardo SCHAERER Vera y Aragón (1873-1941), jornalista, eleito democraticamente, exerceu constitucionalmente a presidência (15/08/1912-15/08/1916), tendo sido desde 1870 o primeiro presidente paraguaio a concluir o seu mandato. Os historiadores afirmam que ele herdou o caráter suíço de seu pai. O fato de que poucas décadas após o início do processo da imigração no Paraguai um filho de um imigrante foi eleito Presidente da República, é único na América Latina, um indício do caráter aberto do povo paraguaio.

Neste sentido também cabe referência a outro filho de imigrante alemão (de Hof, Bavária) e mãe paraguaia, que teve ação destacada na história recente do país. Trata-se de Alfredo STROESSNER Matianda (1912-2006), general, que chegou ao poder mediante um golpe militar e após 35 anos, com reeleições sucessivas, foi derrubado igualmente por um golpe militar (15/08/1954-03/02/1989). Como jovem oficial teve ação destacada na Guerra do Chaco. Independente da avaliação de seu longo governo, cabe mencionar que Stroessner sempre manifestou-se orgulhoso de sua origem alemã.

Ainda, Ángel Roberto SEIFART (1941), advogado, foi Vice-Presidente (15/08/1993-15/08/1998).


PERU

Somente consta o político Fernando SCHWALB López Aldana (1916-2002), advogado, como Vice-Presidente (20/07/1980-28/07/1985), alem de exercer a função de Presidente do Conselho de Ministros (chefe do governo) em 31/12/1963-15/09/1965 e de 03/01/1983-10/04/1984, acumulativo ao de vice-presidente.


REPÚBLICA DOMINICANA

Possivelmente Alejandro WOSS y Gil (1856-1932), advogado e general, filho de Carlos WOSS, foi o primeiro chefe de estado republicano de origem alemã da América Latina. Exerceu os cargos de Vice-Presidente de 01/09/1884-16/05/1885, de Presidente em 16/05/1885-06/01/1887 e num segundo mandato de 23/04/1903-24/11/1903.

O Presidente eleito Juan Emilio BOSCH Gaviño (1909-2001), historiador e escritor, após sete meses de governo (27/02/1963-25/09/1963), foi derrubado por um golpe militar, em virtude de seu governo de orientação esquerdista.

Depois de 37 anos sua sobrinha Milagros Maria Ortiz BOSCH (1936), advogada, foi eleita Vice-Presidente, de 16/08/2000-16/08/2004, tendo exercida interinamente em inúmeras ocasiões como única mulher a presidência de seu país.


URUGUAI

Meados do século passado o país abandonou o regime presidencial, sendo o poder exercido por um Conselho de Governo, cujo presidente por um ano exercia a função rotativa de Presidente da República. Assim, Carlos Lorenzo FISCHER Brusoni (1903-1969) exerceu a presidência de 01/03/1958-01/03/1959. Alem deste, em outros anos integraram o Conselho de Governo os seguintes descendentes de alemães, Luis BRAUSE (1952-1955) e Alfredo Puig SPANGENBERG (1959-1963).


Em uma consideração final, constata-se que os numerosos nomes dos Chefes de Estado e de Governo da América Latina de origem de imigrantes de língua alemã, representam um excepcional índice da integração dos descendentes dos imigrantes em suas pátrias e o exemplo inegável de que se tornaram cidadãos leais.

Destaca-se que o mais jovem presidente foi o tenente-coronel Germán BUSCH Becerra que aos 33 anos assumiu o governo da Bolívia, mediante golpe militar. Já Eduardo SCHAERER, foi eleito constitucionalmente como Presidente do Paraguai aos 39 anos.

Entre as profissões dos presidentes de origem alemã na América Latina predominam os advogados e militares, alias acompanhando a tradição latino-americana. Somente em períodos recentes encontramos em número mais reduzido engenheiros, médicos e economistas.

Gostaria ainda mencionar o que Johann Wolfgang von Goethe teria escrito: “Escrever a história é um modo de livrar-se do passado.” Não sabemos se estas palavras realmente foram pronunciadas por Goethe e, se verdadeiras, em que contexto. As retiramos de uma revista brasileira conceituada dedicada à línguas.

Cabem-nos algumas considerações sobre o conceito que teria sido formulado por Goethe. Com toda a consideração e respeito que merece o grande escritor alemão e, ainda, eu não ter formação acadêmica em história, mas pelas características peculiares de nossa história de imigração e desenvolvimento de nossas comunidades de língua alemã na América Latina, não posso concordar com a opinião de Goethe. Pode seguramente ser adequada para a história de alguns países e povos, cujo passado eles gostariam de esquecer e assim “livrar-se do passado”. Mas não é o nosso caso. Ao contrário, temos orgulho de todos os fatos históricos envolvendo a imigração de nossos antepassados e do posterior desenvolvimento social, cultural e econômico de seus descendentes e sua integração nos respectivos países. Queremos e devemos manter vivo na memória de nossos filhos e netos estes feitos, para que mantenham o orgulho de seus antepassados e, principalmente, sigam com os mesmos ideais, adaptando-as à modernidade.

Neste sentido, com a devida permissão de seu autor, transcrevo, em tradução livre, o que o Sr. Rodolfo Hepe, Vice-Presidente de FAAG, mencionou ao final de seu artigo sobre a realização do IX CAAL, realizado com brilho no ano passado em Frutillar, Chile:

“A direcionada escolha dos temas possibilita o necessário aprendizado e conhecer das semelhanças históricas em todo o continente e só através estas conexões históricas podemos construir no futuro um trabalho cultural conjunto. Neste sentido também é importante, que todos interessados nas tradições e costumes de nossos antepassados sejam incluídos. Nem todas as comunidades – seja qual foi o motivo – tiveram, ao longo do tempo, a possibilidade de manter contato estreito com os países de origem, inclusive, não lhes foi permitido mante-lo. Porem a parte da língua não deverá ser nenhum impedimento; mais depende das atitudes e disposições.”

Finalizando, como representativo da mentalidade dos imigrantes de língua alemã na América Latina, apresento a citação de Karl ANWANDTER, no início da imigração alemã no Chile, meados do século XIX, quando externou em 17 de novembro de 1850:

“Seremos Chilenos honrados y laboriosos como el que más ló fuera. Unidos a las filas de nuestros nuevos compatriotas defenderemos nuestro país adoptivo contra toda agresión extranjera con la decisión y la firmeza del hombre que defiende a su pátria, a su família y a sus intereses.”

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