Imigração alemã em Juiz de Fora.

Nilo Franck

Nilo

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O êxodo dos germânicos para o Brasil, e outros países, pode ser atribuído á alguns fenômenos que a Alemanha enfrentou no início do século XIX. Dentre eles podemos destacar:1- o Congresso de Viena desrespeitou as formações históricas e religiosas da população dividindo a Alemanha em 39 estados compostos por reinos, ducados, principados e cidades livres, que seriam governados pelo reino Austríaco; porém com o passar dos anos os valores e regras estabelecidas no Congresso já não se faziam valer.Foi instaurado um governo absolutista que durou anos e que fez valer as leis e os costumes medievais que já não eram aceitos mais pela população Fato este levou a confederação entrar em conflito, as não adaptações sociais e econômicas foram sentidas por todo o território alemão; 2- as constantes lutas religiosas entre católicos e protestantes; 3- aumento da taxa de natalidade; 4- agravamento da fome e do desemprego, evidenciado em meados de 18152.


O representante da Companhia União Indústria, H. F.Eschels, chega á Alemanha em uma situação favorável para os negócios da indústria brasileira, seria fácil conseguir mão-de-obra boa, qualificada e barata3. Assim, os alemães vieram para o Brasil, em busca de um sonho, de um lugar em que eles pudessem viver, fazer riqueza e talvez voltar para o seu país natal. No ano de 1858, chegam os primeiros imigrantes contratados pela Cia. União Indústria, cujo presidente era o comendador Mariano Procópio Ferreira Lage. O objetivo da contratação dos imigrantes europeus era a construção da estrada macadamizada (sic) União e Indústria, que ligaria o Rio de Janeiro a Juiz de Fora. Vieram do Império Austríaco, dos reinos da Prussia, Hanover, Baviera, Luxemburgo, Bremen, Lenzen, Hamburg e de diversos principados e condados4. Chegaram em busca de sonhos e de realizações, pois a fortuna tão esperada por eles batia-lhes a porta. Perdidos em sonhos viajaram para um país totalmente desconhecido. Mas nem tudo foram felicidades para esses que desbravaram o mar e entraram em um ambiente totalmente diferente do seu país natal a começar pelo clima. Corajosos foram, pois, dentre eles reinava um espírito destemido e de esperança em uma vida melhor, buscavam a felicidade tão sonhada em meio às promessas dos contratantes5.


Depois de chegados ao porto do Rio de Janeiro, mesmo com a viajem cansativa e cheia de problemas, seguiram para Juiz de Fora. O transporte foi feito por carroças, enquanto as mulheres e crianças ficaram sentadas, os homens caminhavam, e só à noite paravam para descansar. Muitos vieram cantando pela Serra de Petrópolis6 . Na cidade tão esperada (Juiz de Fora), foram instalados na colônia D. Pedro II, atuais bairros, São Pedro, Borboleta, e Fábrica. Porém a Companhia União Indústria não cumpriu com as promessas contratuais da imigração, cobrando-lhes as passagens e vendendo-lhes terras de péssima qualidade. Apesar das dificuldades prosseguiram cultivando trigo, plantando feijão, arroz, milho, batata, café, criando animais de montaria e de transporte, produzindo pão alemão salgado e doce.


Com o fim das atividades na Companhia União Indústria, os imigrantes tiveram que buscar uma outra atividade para suas vidas, muitos se estabeleceram nos ramos do comércio e da indústria impulsionando o desenvolvimento da cidade. Surgiram, os curtumes, tecelagens, frigoríficos, marcenarias, oficinas mecânicas e cervejarias. Foi nas primeiras décadas do séc. XX que Juiz de Fora foi reconhecida e intitulada como \"Manchester Mineira\", devido ao seu desenvolvimento industrial. A criação das cervejarias caseiras pelos alemães destacou-se na história. A sua primeira fábrica foi fundada na colônia de cima (São Pedro) por Herr Kunz.


Os colonos introduziram maneiras diferentes de se viver culturalmente, politicamente e religiosamente do povo brasileiro sentidas até os dias atuais na cidade. A prova mais cabal disso é a manifestação cultural e popular da Festa alemã do bairro Borboleta, e a manutenção do grupo folclórico alemão que aprende não só as danças, mas também um pouco da história de sua cidade.


É para isso que viemos ao mundo, todos nós, movidos para fazer parte da história e se tornar história. Sabrina Munck.


1Historiadora formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

2STEHLING, José Luiz. Juiz de Fora e a Companhia União Indústria e os alemães. Juiz de Fora: Prefeitura de Juiz de Fora, 1997. p.183.

3IMIGRANTES 150 anos de Juiz de Fora. Edição comemorativa de 150 anos de Juiz de Fora. 31 de maio de 2000. p. 02.

4KAPPEL, Oscar. Comunidade evangélica de Confissão Luterana em Juiz de Fora: 140 anos de história. Juiz de Fora: Editar Editora Associada, 2002. p. 4.

5TRIBUNA DE MINAS-REVISTA IMIGRANTES .op.cit p. 03.

6idem p. 26.


Por Sabrina Munck do Nascimento

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