SEXTO ENCONTRO DAS COMUNIDADES ALEMÃS DA AMÉRICA LATINA - DEPOIMENTO DE VICENTE DE PAULO CLEMENTE
Estava muito ansioso com o que iria acontecer dali a alguns dias.
Escrevera o livro de minha vida, que desde há muito tempo sonhara com ele. Tratava-se da história de nossos ancestrais alemães, que deixaram sua Pátria, há exatos 150 anos, isto é, em 1858 e partiram do porto de Hamburgo, lá no norte da Alemanha e que para cá, vieram, contratados pelo Império Brasileiro, para construir uma estrada, a União e Indústria, que serviria de escoamento do “ouro negro”, o café, a partir de Juiz de Fora, até ao porto do Rio de Janeiro, onde seria exportado pelo mundo afora.
Era uma história e tanto, que me custou muitos anos de pesquisas e sacrifícios pessoais e ainda recheada tal obra, com crônicas que escrevera ao longo dos anos, publicadas ou não, na imprensa local, contando com humor, de nossas extravagâncias e conquistas na terra que escolheram nossos anteriores, imigrantes.
O livro estaria pronto e programado para ser lançado na 14 Deutschesfest “Festa Alemã” do nosso bairro Borboleta. O programa da festa já estava pronto, quando recebi uma oferta que mexeu com meu emocional já abalado. A Comissão Organizadora do Encontro das Comunidades Alemãs da América Latina, representadas por Nilo Sérgio Franck, Roberto Dilly e Rita Couto, me perguntaram se gostaria de fazer o lançamento de minha obra em tal acontecimento internacional a ser realizado nos dias 03 a 05 de setembro de 2008, na Estação São Pedro, no bairro do mesmo nome.
Explicaram que seria muito bom para ambas as partes, já que além da Festa Alemã, que já programara o lançamento literário para o dia 04/09/2008 na abertura da Festa, teria a oportunidade de mostrar meu trabalho para um público bem mais amplo e seletivo.
Pensei comigo, por que não? É uma grande honra participar de tal Encontro, onde tantas comunidades de origem alemã estariam reunidas e para debater e conversar sobre assunto comum a todos. Com o coração batendo forte, de imediato aceitei e tratamos de nos organizar para tal evento.
Com tantos amigos me apoiando, mesmo que algum deslize acontecesse, de minha parte, fatalmente seria absorvido por todos, já que sabiam de minha dificuldade de falar em público, já que não era afeito a tais proezas, pensava com meus botões.
Chegou o dia 03/09/2008, o primeiro dia do Encontro e pela manhã, fui um dos primeiros a chegar na Estação São Pedro –criativos esses alemães, diziam uns: construíram uma estação onde não vemos trilhos e nem trens – e conferir como funcionava a recepção das pessoas e encaminhamento dos participantes até ao salão de conferências.
Tudo como deveria ser, com sobriedade e eficiência, como é de praxe nas pessoas de “sangue alemão”.
Os organizadores pulavam daqui para ali, atendendo a todos e diversos ao mesmo tempo.
Havia participantes e palestristas de várias partes do Brasil, tais como de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, além das regiões mineiras de Teófilo Otoni, Belo Horizonte, além de muitos de Juiz de Fora.
Vieram representantes de países da América do Sul, tais como Argentina, Paraguai, Venezuela, Chile, Peru, além de entidades, dentre as quais as Anfitriãs, Associação Cultural e Recreativa Brasil-Alemanha, por sua Presidente, Hilarina Annita Dal Medico, Instituto Cultural Teuto-Brasileiro William Dilly, por seu Presidente José Roberto Dilly, representantes do Sr. Prefeito Municipal, do Centro Industrial, do Magnífico Reitor da Universidade Federal de Juiz de Juiz de Fora, do Presidente da FECAB – Federação dos Centros de Cultura Alemã no Brasil, do Instituto Goethe e da Associação Brasileira de Professores de Alemão, das Colônias Alemãs de Teófilo Otoni – MG, dos Pomeranos, do Espírito Santo, da Associação Cultural Gramado – RS, Cônsul alemão de Belo Horizonte – MG, Secretário da Embaixada Alemã do Rio de Janeiro, além do Prefeito e Secretário de Turismo de Pozuzo, do Peru.
O lançamento do livro, que inicialmente estaria programado para acontecer ao final do primeiro dia do Encontro, se deu logo após o almoço, às 14:30 hs.
Pela manhã, nossos representantes usaram da palavra, dando as boas vindas aos visitantes e conferencistas, pela ordem, Roberto Dilli, que até se emocionou ao falar de nossos ancestrais da Colônia D.Pedro II, ao passo que Nilo Franck ultrapassou-o ao falar de sua ascendência germânica e da iminência de que sua família estava para gerar um Padre, seu filho Nilo Jr., para a Igreja Católica, Hilarina Dal Medico, pela ACRBA também deu as boas vindas aos participantes ao nosso pedaço de chão.
Palestristas se sucederam nos trabalhos e aconteceu o almoço comunitário, onde pudemos constatar o grau de satisfação de cada um que lá se encontrava.
Chegara enfim o grande momento de me apresentar e falar de minha obra tão almejada.
A mesa estava ornamentada e ao fundo um conjunto de bandeiras se destacava e lembrava um ambiente de reuniões da ONU. Até que poderia ser da “ONSA” Organização das Nações Sul Americanas, sem falsa modéstia.
Nem sei bem como me apresentei e falei sobre meu livro. Somente me lembro quando a esposa do Nilo Franck, Dilza, me mostrava numa tabuleta os minutos que me restaram. Em pouco tempo encerrei minha apresentação, com grande satisfação e emoção, agradecendo, antes a Deus e a todos pela oportunidade de estar ali, naquele momento, com pessoas tão especiais como aquelas presentes.
Palestras e mensagens se sucediam à mesa, o Encontro se encerrou com um jantar festivo.
No dia seguinte, a programação seria mais rica de atrações: uma viagem até a cidade Imperial de Petrópolis, com visitas à Catedral da cidade Fluminense e mais um ciclo de palestras no Palácio de Cristal, almoço festivo na Igreja Luterana e mais uma atrativa visita ao Museu Imperial, conhecido nacionalmente pelo seu acervo de tudo o que é relativo ao período imperial de D. Pedro II, nosso último Imperador. Não pude acompanhar o grupo nesse dia, por compromissos assumidos na Deutchesfest da Borboleta, mas ao final da noite pude constatar do sucesso da programação daquele segundo dia do Encontro, quando os participantes “fecharam a noite” comparecendo à nossa Festa Alemã, pelos semblantes radiantes de todos, especialmente dos organizadores do Encontro, degustando as iguarias da cozinha alemã, o choppe espumante e as apresentações dos grupos de danças que se sucediam no palco da festa.
O terceiro dia foi destinado a um périplo pela nossa cidade, organizado pela Secretaria de Turismo de Juiz de Fora e à tarde, depois do almoço continuava o ciclo de palestras com a parte internacional, onde pudemos constatar que apesar das diferenças culturais de nossos hermanos da América do Sul, as colônias alemãs têm muito em comum. As dificuldades da viagem da terra natal até ao seu destino, quer seja na Argentina, no Chile, na Venezuela, Paraguai ou nas selvas amazônicas do Peru, o difícil começo, a formação das comunidades e a absorção da cultura local, sem perder suas próprias origens.
Informações eram passadas nas telas laterais do salão, com fotografias e filmes, que muito nos tocaram, mormente a experiências em terras amazônicas do Peru, onde o Prefeito da cidade de Pozuzo e seu Secretário de Turismo tão bem souberam transmitir o que nos espera no VII Encontro em território peruano.
Foi gratificante, realmente, a experiência de participar desse Encontro de Comunidades Alemãs Latino-Americana e testemunhar de perto do quanto nossos organizadores se dedicaram para ter o sucesso que tiveram em oferecer aos nossos visitantes a realidade dos descendentes de alemães de nosso Bairro Borboleta, de nossa cidade de Juiz de Fora e da nossa co-irmã, Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Comovidos, vimos o desgaste físico-emocional do amigo Nilo Franck, sempre apoiado pela carinhosa família e dos demais organizadores, que se multiplicaram entre aquele Encontro pouco divulgado na imprensa local e da Deutschesfest que se desenrolava no Bairro Borboleta.
Obrigado, amigos, por me deixarem participar e ser uma testemunha desse grande sucesso.
Um fraterno abraço a todos vocês e extensivo a todos os participantes de todas as regiões da nossa querida América Latina que nos visitaram nesse Setembro de 2.008.
Que DEUS nos abençoe a todos!
Vicente de Paulo Clemente – Clemens
Bisneto do imigrante alemão de 1858, Phillip Clemens.